"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

domingo, 25 de outubro de 2009

Em Lisboa, o que havia? [2]

Tenho toda a alma voltada para um corpo que não é o meu. Tenho todo o pensamento voltado para um cérebro que também não é o meu. E tenho, por fim, todo o sentimento voltado para o coração que nunca tive. Caem, sempre, com uma excepção remota, no mesmo sector responsável pelo pensamento. Não quero nada novo, nada que não seja meu – se é que alguma vez tive alguma coisa – mas quero, sim, o conformismo comigo mesmo. Mas isso parece-me impossível.
Não sei como nem quando comecei a ser assim, estranho em mim mesmo. Pode ter sido desde que nasci, como pode ter sido ontem. Facto é que ao decorrer do tempo pouco importei-me para isso e voltei minha atenção para o mundo exterior fútil, fétido e dramático que me empurram pela goela abaixo desde que nasci. Agora, olhando para mim, percebo apenas que não me percebo, que sou um simples estrangeiro na planície árida de minha alma.
Acho que entrei, quando devia ter saído.

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