"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O Príncipe

Vago entre o Céu e o Inferno,
hóspede da Casa do Degredo,
onde todo dia é dia de guerra
e cada batalha cospe a ausência do meu exílio.

A maldição do tempo cai sobre o meu corpo,
a noite vem marcar a minha face,
extingue-se de olhos cansados a última chama.

Além, o mar inexistente insiste
a me fazer boiar em seu rumor,
misturar minha espuma ao seu suor,
fazer de mim sua própria dor.
E deuses maiores não morrem,
e homens dançam em barcos.
Tempestades, tormentas, ventos e cortes
rompem a amurada daquilo que fui.

Cai, ó Príncipe da Ilusão!
Aceita o teu destino!

Um réquiem distante conferirá recato à noite
e o esvanecer do tempo ser-te-á nulo,
deitado no esquife pobre onde bóiam teus sonhos.

Vai-te, ó Príncipe,
e procura tua verdade!
Ou te afogues no mar eterno do teu mundo
como a criança boba que inventou
a verdade horrível de um quarto escuro.

Deslizamentos

Como a chuva que escorre e molha o telhado
lanço minha dissolução ao concreto cinza da vida.
Como a gota d'água suja -
o pó do telhado! -
que cai e não encontra a poça,
por a água ter já se escoado,
resigno-me a não ser mais natureza.

Ah, o ódio de tudo
e o cansaço desse ódio
e o cansaço do cansaço ser só isso
e não ter o que fazer com ele!

Corre, chuva, nos telhados!
Corre, água cinzenta suja!
Corre e se vá perder no vazio,
deslizante única num chão liso,
que não lava a face de ninguém.
Vá, ó chuva da minha alma
e que o vento frio desta hora
não anuncie aquele sol falso
que por entre o céu carregado insiste,
tragicamente,
a me querer fazer aparecer.

Bar

Numa noite sem cessar eu procurava
De mãos frias, vazias, penitentes,
Em garrafas indecorosas que se uniam

Ao mistério incompreensível de cada coisa,
Uma coisa maior que em vão dissesse
A própria coisa perdida e interrogada.

E como um surto negro e inconseqüente
Se apossasse do meu ser ensimesmado,
Me afundei no mar maior de uma cadeira

Que sozinha havia, inconsolada,
Sem chegar à resposta gratuita
Que acalentasse esse meu ego delinqüente.

Submerso assim em devaneios
Me levei inconsciente a outras plagas,
Sonhos menores de um sempre mesmo sonho,

Incapaz da concretude que eu queria.
Adormeci meu corpo nu cansado
Num carrossel atroz de mil volteios

A espera de uma luz que em claridade
Me retirasse a estátua de mim mesmo,
Esquecido e de tudo renegado.

Um trajeto mudo e áspero me emudecera
Em que sob o halo da manhã chegada
Apresentou-me o Além-da-realidade.

Tudo o que eu julgava desconexo
Mostrou-se claro na verdade que se grita.
Mas a palavra felizmente debruada

Não permite o caminho então reverso
E a noite novamente foi caindo
Num gesto hermético e a si inverso.

Nota

As tentativas literárias postadas até aqui são, talvez com uma única exceção, referentes à idade máxima dos 18 anos do autor. São textos em sua maioria escritos entre os 16 e 18 anos, e é justamente em função da tenra idade em que foram escritos que o blog leva o adolescente título de "Lobisomem Juvenil".
A partir desta data serão postados textos mais novos em meio aos antigos. Não se alterará o título do blog, pois o "lobisomem juvenil" que havia antes ainda subsiste, um intricado lobo da estepe, um rebento último da linhagem de Harry Haller. O homem sempre foi e será o lobo de si mesmo; não me contextualizem.