"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ano Novo Chinês (carta em verso)

Tentei ajudar,
mas percebo que quem precisa de ajuda
sou eu.
Não sei o que fazer:
estou perdido entre os sonhos que criei,
todos ruínas, poeira, fracasso
do meu próprio existir.
Como sair daqui? O que fazer?
E, do fundo de uma garganta condenada,
a resposta sempre igual:
Eu não sei!

Tanto dei as mãos aos outros
que agora já as não tenho mais.
Quem afagará a minha face?
Quem alisará os meus cabelos?
Quem me encontrará em meus olhos?
E quem apagará a lembrança do que foi?
Ninguém, ninguém fará nada.
Não haverá a esperança de um novo dia com o sol posto,
apenas o sol posto.
Quero chorar e gritar.

Os ratos saem para a virada do ano,
que já está de cabeça para baixo;
os ratos roem a roupa do rei de Roma.
O mito reverbera em pêlos.
Os ratos são meus irmãos,
pertenço a eles.
Preciso de ajuda,
mas não preciso de ninguém.

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