"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Não digo nada

Não digo nada nesse momento em que não se deve dizer nada.
Sinto que se o dissesse,
que se cortasse a sinfonia do silêncio,
o céu despencaria.
O equilíbrio das coisas é tão tênue,
tão delicado e cheio de segredos,
que um carinho meu te rasgaria.
A atmosfera é cinzenta e preenche a minha alma
aparentemente tão cheia de vazio.

As árvores se saúdam do outro lado da rua,
o vento as apresenta umas às outras.
Eu observo apático, disperso e longínquo,
enquanto travo guerras comigo mesmo
e me venço e me perco entre esforços vãos.
Me perco entre nós.

Entedio o tédio que há em mim,
Sofro por saber que sofro,
que penso,
que sinto,
que desejo,
que vivo!
Num domingo sem graça vejo a minha vida inteira:
Passado e Futuro, presente.
Num domingo sem graça me lembro, me esqueço,
me perco te encontrando...
(Você está empregnada em mim)
Você está em mim ou do meu lado,
em toda a parte ou em parte alguma.
O interlúdio que me toca entre o sonho e a vida,
e aos dois também.

Os móveis de um quarto que você nunca verá
respiram sua presença, sentem seu cheiro,
embalados no meu resfolegar inconsciente de derrotado,
de quem luta com toda a ignorância, covardia e parcimônia,
bravamente,
por um ideal vão, por uma batalha perdida.
Os móveis flutuam, rodam no quarto,
excitados com a música que não vem.

As paredes ontem tão brancas, simples e livres,
hoje tão maculadas, marcadas de língua,
de suor, sangue...
Superfície alva que traz escritos o devaneio,
o sonho,
o desejo... Superfície que transborda e molha o chão
com a saliva que é minha e o que me brota da pele e das veias.

Toda a arquitetura da casa sucumbe
à sua presença esquiva raiando num espaço negro.
Toda a ciência dos homens arqueja,
e seus cálculos se mostram inúteis.
Toda a religiosidade rasteja
aos pés de uma deusa viva que me tem.

E eu contemplo essa atmosfera carregada,
sem nada dizer,
para que o que eu sinto não rasgue o Infinito.

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