"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

terça-feira, 6 de julho de 2010

Dracônico

A noite escura chega e quer me consumir.
O tédio invade meu corpo debilitado.
Do outro lado de tudo a Morte me sorri;
Do outro lado de nada o Sonho fracassado.
------ A angústia pobre, meu desvelo vão,

------ Mostra que tenho ainda coração,
Ou os destroços que dele restam. Amado
Nunca foi, e aos poucos já não sabe sentir
O que outros sentem. As pessoas do passado
Hoje destroem-no, como amanhã. Fingir

Estar bem já não consigo mais. Vou sair,
Arrancarei do peito o coração lesado
E não deixarei nunca mais alguém o abrir.
Viverei sempre só, sozinho e ostracizado,
------ À parte dessa civilização

------ Que mata e fede em alucinação,
Que zomba em cantigas de seus escravizados.
Os desertos me pertencem! quero sumir,
Gritar a Deus a morte dos alucinados!
Irei sozinho para não mais me ferir.

Ah, como é simples, como é fácil denegrir
O tolo coração humano aluviado!
Disperso, confuso, sem ter para onde ir,
Plebeu das massas tristemente renegado.
------ Já não sou humano. Sou um dragão.

Minhas asas tocam a fealdade infernal
De astros que giram em louco espaço noturno;
De minha boca saem grunhidos de animal,
------ Dos meus olhos o desejo de morte.
Já ninguém pode comigo, Dragão Soturno,
Com meu orgulho, vaidade, querer mal
A todos os que são felizes, que têm sorte,
------ Opostos de um dragão vil, taciturno!

Eu berro e grito por ermos campos vazios,
Gozo a morte de tudo, da humanidade,
Sinto o calor desses malditos corpos frios
Que encontro vagando, podres, pela cidade!
------ Entôo a bela e fúnebre canção,

------ Dos que combatem sem qualquer razão,
Pela maravilhosa e única verdade.
Em nome da desumanidade que crio
Grito forte com todo o peito e grande alarde
A raivosa confusão com a qual procrio

Sedento império de espectros a que me alio!
E assim me faço, Dragão-deus-da-Mortandade!,
Sem o menor medo perante o desafio
De ser rei de homens desumanos, sem vontade
------ Contrária que não acabe um dragão.

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