"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

sábado, 10 de julho de 2010

Idéias postas sob o crivo do álcool

O ideal estético caiu por terra. Os versos hoje forçados nada mais são que fingimentos, mentiras que escondem a deficiência técnica que o Romantismo fez imperar sob o livre pomo do sentir. Foram-se com os últimos poetas os elementos que regulavam a nobreza da arte poética. Na poesia atual, basta que ponhamos aqui ou ali algumas palavras em itálico, mediadas por pontos ou pausas maiores, para que qualquer escrito tresloucado se diga “arte”. Com uma tal falta de literatura como há hoje, o que mais pode o homem de gênio senão criar seus próprios amigos literários, sua literatura de muitos em si mesmo (parafraseio toscamente Pessoa)? Decadentes! Hölderlin vomitaria sobre esse vômito que nos é impingido, tremeria de ódio contemplando a estirpe da qual é pai.
O literato atual deve fazer do álcool seu único amigo literato, fazer desse consumo sua higiene básica, seu dia-a-dia expositivo da literatura. Encontrará somente em si mesmo a única alma que comungará de seus versos, e, ainda assim, ébria. Quantos são os que conservam a fiel arquitetura do fazer? Em que nicho de ninfas a poiesis se escondeu? Se Platão expulsara da sua idealizada pólis os poetas de então, ainda que coroados com mirto e oferendas outras, o que fazer desses cretinos que subvertem a quintessência que é a arte poética?! Para o Inferno mandá-los? Não, nem para o Inferno! Matam a cada palavra sublinhada, escondida num não-dizer, tudo o que deveria ir além de Homero e Milton! Não, não se pode conviver, porque não se pode aceitar.
Superficialidades, insuficiência transcritiva... é contra isto que me oponho.

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