"Teu ato mais sublime é colocar outro em sua frente." William Blake

sábado, 3 de julho de 2010

Errata

I

Vem me falar de erros?
Pro inferno com os erros!
“Reparar os erros...”
Arre! Erros se reparam?
Erros se erram!
Faça uma errata.
Nada de erros!

II

Primeiro,
Vem me tirar do meu desassossego sossegado,
Me tira a liberdade, a identidade, o conhecimento de mim mesmo.
Depois vem me falar de erros!?
Essa tua podridão mental me exaspera!
E se eu colocasse tua cabeça num torno
E apertasse! apertasse!! apertasse!!!?
Aí, talvez, seria erro...
... ou a melhor coisa que já fiz:
Ter que catar teus miolos no chão,
Procurar os olhos que saltaram das órbitas,
Até desembaraçaria os cabelos da massa cinzenta apertada!
E logo os cabelos! Ironia...
O sangue escorrendo a cântaros da tua fronte,
Eu guardando-o num pequeno balde
amarelo!
Vendo-o coagular.
O ruim é o prelúdio: gritos.
E eu odeio tua voz! Me tira a concentração,

desencaminha
-me.

Poderia te amordaçar, ou melhor:
Arrancar-te-ia os lábios com os dentes,
Depois te rasgaria a língua
e sugaria o sangue dela...

... Silêncio.

E então:

O TORNO!

O forno e você a assar,
Exalando tua putrefação mental.
Me guiando no escuro por esse miasma alegre
talvez chegasse a mim mesmo.
Retiraria teu corpo esquartejado, queimado,
Providenciaria o mais belo funeral:
Haveria música:

“É tão estranho...”

E teu fantasma dançaria largamente!
Você adorava essa música quando viva,
Por que não depois de morta?
Encher-te-ia de moedas,
Para me certificar do trabalho do barqueiro,
de modo que não haja volta!
É, não volte! Nem deverias ter chegado...
Isso não quer dizer que quero que vás.
Fica! Mas não volte!
Cavaria 21 palmos de terra,
Jogaria 50 mãos de lama
sobre o que sobrou do teu rosto.
Sobre tua campa desenharia o sol,
Com giz, todos os dias,
tijolo de construção...
Por fim, ergueria eu mesmo a tua lápide
Vagabunda
E nela gravaria um irônico epitáfio:
Uma errata, que nem sei o conteúdo.

Sou louco, louco, louco!
Estou louco!
E da minha loucura brota o pecado
daquele que renuncia.

Com isso não quero dizer que não erro,
Mas que não há erros a serem corrigidos.

III

Isso poderia ser uma ode, se não fosse uma errata;
Poderia ser uma dissertação, se não fosse uma errata;
Poderia ser uma carta, não fosse uma errata;
E nem poesia chega a ser, pelo incomensurável fato de
ser uma errata
talvez
cheia de erros.

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